terça-feira, 7 de abril de 2015

O sol e as sombras



FLORIANO MARTINS & VALDIR ROCHA | O sol e as sombras  (Poemas & gravuras em metal)
Pantemporâneo | São Paulo, 2014
Capa, de Valdir Rocha


Brochura, 74págs
Projeto gráfico: Nelson Itiro Mitsuhashi
Revisão: Márcio Simões
Formato: 14x21cm
R$ 30,00 (frete simples incluso)
Exemplar autografado pelo Autor


TRECHOS PARA LEITURA

A criação sempre foi o único recurso de fundação de uma humanidade em nós. Escutar a melodia da imagem, tendo sempre no espírito o ritmo com que imaginário e criação se entrelaçam. A cada desafio que me faz Valdir Rocha se amplia a juventude lírica de minha alma. Desta vez fisguei entre suas incontáveis gravuras em metal o vozerio de umas tabuletas que vieram me soprar no ouvido a íntima relação entre o pensamento indígena e as sombras definhadas de nossas sociedades. Se fui buscar argumento no ambiente mesoamericano do Popol Vuh, isto se deu pelo singular fascínio por quanto pensamento e vida se mesclam na cosmogonia maia. Ouvindo as peças de Edgar Varèse dedicadas a este livro da Criação, sempre me pareceu que sua leitura musical havia reduzido a diversidade do mito fundador. Diante da força expressiva das gravuras de Valdir Rocha - ardilosas em sua aparente repetição -, voltei a navegar por essa tessitura sofisticada e evoquei outra música, delicada improvisação de encontros, como em toda descoberta, entre o acordeonista francês Richard Galliano e a cantora canadense Molly Johnson. No decorrer de uns poucos dias me concentrei na voragem sedutora de vários discos de ambos os músicos e me pus a dialogar com as gravuras de Valdir Rocha, naturalmente guiado pela soma. A oposição somente se justifica como um garimpo da convivência. Este é um encontro feliz. [Floriano Martins]

Se o trabalho criativo isolado é árduo, aquele que se desenvolve em dupla ou qualquer outro conjunto impõe ainda mais barreiras, porque pressupõe espécie exigente de química para proporcionar resultado adequado. O que se tem neste O sol e as sombras não é a primeira realização em dupla que desenvolvo com Floriano Martins. De quando em quando, renovamos desafios, um ao outro, porque a tal química parece funcionar. As gravuras aqui reunidas foram produzidas ao longo de muitos anos e diversas delas até já estão publicadas em livros anteriores. Apresentei ao poeta cerca de 60 imagens que me diziam ter algum ponto de contato e, delas, Floriano fez nova seleção de 34 - talvez guiado por seus títulos, para com elas conversar. Sei que algumas falaram mais rapidamente; outras menos e houve também aquelas que não cabiam nesse diálogo. Se não estou enganado, a escolha do parceiro recaiu sobre aquelas que aludiam sobretudo à memória, bem como a indagações, buscas e reflexões. Os presentes  poemas de Floriano, comparados com outros de sua obra, são, ao meu sentir, mais narrativos, soltos e espontâneos. Eu fiquei muito satisfeito com o resultado porque fomos além das 34 imagens visuais somadas a 33 poemas. Mais do que 67 partes que podem funcionar separadamente, chegamos a um todo que ilude mais, sem piedade do olhador e do leitor. [Valdir Rocha]


RESENHA

Em um poema de Floriano Martins, "Rastro", esbarro em um verso que me derruba: "- Esta é a única obra. Escutem seu nome". O poema está em O sol e as sombras (Editora Pantemporâneo, 2014), livro trabalhado em parceria com as mãos vigorosas do artista Valdir Rocha. As reproduções das gravuras em metal de Valdir são atordoantes e conferem ainda mais potência à frase que leio.
O livro se abre com uma epígrafe iluminadora do espanhol Francisco de Goya: "Na natureza existem tão poucas cores quanto linhas, só existem o sol e as sombras. Dá-me um pedaço de carvão e eu te darei o quadro mais belo". Tudo, no livro, conflui para um mergulho radical em si. Tudo conflui para o verso de Floriano - ele, também, simples e forte.
Eu o repito, para ter certeza de que ele existe: "- Esta é a única obra. Escutem seu nome". O verso vem em itálico, o que tanto pode indicar a fala de um personagem obscuro, como uma citação. Mas citação de quem? Não importa - o verso se fecha em si mesmo e nos sacode. Nos arrasta. Ele resume, de modo impactante, o segredo da própria criação.
Lembra Goya que na natureza existem poucas coisas realmente valiosas e que, por isso, devemos nos aferrar ao pouco que temos. Precisamos nos agarrar ao que somos - ao próprio nome - ou nada mais se sustenta. Essa parece ser a sina de artistas e escritores: sustentar uma assinatura. As máximas contemporâneas afirmam que "o autor morreu", mas para os artistas verdadeiros isso não passa de uma afirmação leviana.
Precipitada e perigosa, já que pode matar (ainda que metaforicamente) o que um artista é. Pode emudecer uma voz. E de que mais trata um nome senão de uma voz que nos designa? Que nos devolve a nós mesmos? Ter um nome - o que é muito diferente de ter uma identidade renomada -: eis tudo o que um artista quer. Tudo o que um artista (um escritor) persegue. Tudo o que o mantém respirando.
O mesmo poema, "Rastro", abre com outros versos fortes: "O lugar de ser de cada letra,/ a oração convertida em pérola/ que nos decifra em fatias". A palavra pérola - eis o nome, ao que só se chega depois de um longo percurso de volta a si. Voltar a si é muito mais difícil do que avançar, ou transformar-se. Em outras palavras: para um artista, voltar a si é o verdadeiro avanço, é a verdadeira transformação.
Transformar-se em si mesmo - o que parece simples é o mais difícil. Ainda Floriano: "O mundo é uma fábula,/ até que nos descobrimos/ o personagem de sua saga". O personagem de si mesmo. Ao lado do poema, um imenso rosto, com os olhos arregalados, nos encara. Figura, mais do que nunca, silenciosa. Seus olhos bastam.
A arte de Valdir Rocha dialoga em silêncio com as palavras do poeta. Esse olhar intenso e imenso, voltado mais para dentro do que para fora, é aquele que um artista abre para, enfim, chegar a si mesmo. Refere-se, ainda, ao espanto que todo artista experimenta quando, depois de muita luta, chega ao próprio nome. [José Castello - Rio de Janeiro: O Globo, 04.03.2015]

  
Floriano Martins (Fortaleza, 1957). Poeta, ensaísta, tradutor e editor. Diretor da Agulha Revista de Cultura (www.revista.agulha. nom.br) e da ARC Edições. Estudioso do Surrealismo e de poesia de língua espanhola. Tradutor de Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Pablo Antonio Cuadra e Aldo Pellegrini. Alguns de seus livros de poemas: Cenizas del sol [edição trilíngue, com o escultor Edgar Zúñiga] (Costa Rica, 2001), Tres estudios para un amor loco [tradução de Marta Spagnuolo] (México, 2006), Duas mentiras (Brasil, 2008), Teatro imposible [tradução de Marta Spagnuolo] (Caracas, 2008), A alma desfeita em corpo (Portugal, 2009), Fuego en las cartas (edição bilíngue, tradução de Blanca Luz Pulido] (Espanha, 2009), Autobiografia de um truque (Brasil, 2010), Delante del fuego [traducción de Benjamín Valdivia] (México, 2010), Abismanto [com Viviane de Santana Paulo] (Brasil, 2012). arcflorianomartins@gmail.com.

Valdir Rocha  (São Paulo, 1951) é pintor, desenhista, escultor e gravador, com dedicação às artes plásticas desde 1967. Parte expressiva de suas obras está reproduzida nos seguintes livros: Mentiras, Verdades-meias e Casos Veros (desenhos, pinturas, esculturas e textos diversos), São Paulo, 1994;  Xilogravuras, São Paulo, 2001; Cabeças. São Paulo, 2002; Gravuras em Metal, São Paulo, 2002; Títeres de Ninguém, Florianópolis, 2005; SÓS (desenhos e pinturas sobre papel impresso), São Paulo, 2010; e Confidências (desenhos e pinturas sobre papel impresso), São Paulo, 2013. A obra de Valdir Rocha é objeto de diversas monografias, como as seguintes: A Escultura de Valdir Rocha, de Mirian de Carvalho, São Paulo, 2004, e O Desenho de Valdir Rocha, de Péricles Prade, São Paulo, 2010. Em 2012, foi publicado o livro Só sobre SÓS, de Valdir Rocha, coordenado por Péricles Prade, Florianópolis, com textos de 17 autores. Realizou exposições individuais e participou de algumas coletivas. vr@valdirrocha.art.br.


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